terça-feira, 29 de junho de 2010

Só por dizer

Preciso jorrar isso em algum lugar. Você, um dia, se olha no espelho e se lembra da garota da revista, aquela de pouca roupa, bonita, esbelta, feliz. Você tenta ver, ali no reflexo, algo que te deixe feliz, e não encontra. Compara aquela foto com a da menina da revista. Repulsa. Você decide: não gostam de mim assim, eu nem estou como nessa foto bonita, vou resolver isso. Você passa uma, duas, dez horas; você passa um, dois, dez dias, você passa mal e cai, você levanta e começa de novo. Você sente que cada trancar do maxilar é maligno, você é um monstro feito de dentes. Você cai de novo, encontra outro caminho. Você cai, e então se segura antes de chegar ao chão. Você mente que está bem, você cai, você se segura, você mente para si mesma. Por outro ângulo, não gosta de invejar. Pensa que é sim, mais bela e feliz, mas o espelho não mente, ou não ajuda, e que fotos são essas? Não é mais você. Você não sabe o que se tornou, pouco consegue encarar. Ser bela dói, você pensa, pensa que cansa. Já percebeu e nega que não é você que cansa, que decide, que nega, é o que você se tornou que pensa por ti. Isso tomou conta de você, isso é você. E por mais imprevisível que seja, dói também ao chegar lá. Esse não é o pico mais alto, escaladora, tente de novo, não é o suficiente. Você imagina como seria voar, o mais alto, onde não se possa ouvir os pensamentos. Você até que gosta de borboletas, as que vivem poucos, mas vivem belas. Bor-bo-le-tas. A-ma-re-las. Voe em direção ao Sol e seja feliz. Ou não.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Característica

Creio que sei o que acontece, eu deveria encarar mais vezes, é que dói. Se bem que essa dor não vai passar tão cedo e eu, até me dou bem com ela. Então. Devo coisas, é assim que me sinto, como se as coisas não fossem destinadas à mim, não as boas pelo menos, e, tendo isso em mente, eu devo entregar e distribuir o que ainda estiver bom dentro de mim, porque é assim. Talvez aqui dentro, eu tenha essa filosofia de que tudo que vai, volta em dobro, seguida à risca, logo, se eu oferecer as coisas boas, elas acontecerão comigo, mesmo vendo que isso não acontece na vida. Assim, eu tenho que só vou entregando os bons sentimentos e ensinamentos, eu não vejo por que de usar em mim, mesmo se quisesse, não sobra muita coisa útil depois que distribuo por entre tantas mentes e corpos. Não que seja legal fazer isso consigo mesma, só é bem mais fácil, não querendo correr nem mascarar o que há comigo, mas quem sabe se eu fizer algumas coisas boas, eu ainda tenha chance de ir pro céu, não? Acredito que é minha culpa, que dou tanto amor que não sobra nenhum pra mim e que eu precise das pessoas pra me afirmar, como uma abelha das flores. Elas não conseguem viver sem o pólen e, não acredito que eu consiga viver sem alguém ali, pra devotar algo, seja amor, respeito, carinho, conselho. Então, mesmo que eu esteja sozinha, arruinada, caída, eu ainda terei as palavras, e sei que quando for de meu desejo, posso usá-las como grandes armas de conselhos, carinho, respeito e amor. Às vezes eu me sinto sozinha, como se não fosse bom ser eu e quem sabe, não seja. Uma solidão que não vai embora, não importa se há alguém comigo; eu aprendi muito bem a ignorar, e isso inclui uma ignorância suprema à mim mesma. Aqueles dias em que eu me afundo na cama, ou só saio dela pra beber água e pegar o computador, aqueles dias em que eu não vejo esperança e passo tardes e madrugadas assistindo desenhos quando não há mais sono. Eu sei que eu posso, melhorar e tudo mais. Só que eu não preciso, eu preciso é de pessoas.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Correndo por entre papel

Os livros são baús de tesouros, com palavras de diamante e ensinamentos de madre pérola, onde eu não posos deixar de encara como um espelho as tantas páginas nas quais o baú se decompõe. 
Veronika, em Veronika Decide Morrer, Maria em Onze Minutos, Leslie em A Menina Que Roubava Livros, Isadora em Medo de Voar. Fujo desses reflexos comuns que os vidros tratados mostram e me enxergo através do livro aberto nas mãos, onde mergulho e nado incansavelmente. Invado e recrio os mundos das folhas, é tão menos complicado assim, assim vendo tudo mais claro com uma atuação barata, um elenco pobre de palavras e esses apertos infinitos no peito, no estômago, no pulso cansado de escrever. 
E não canso de escrever, é ele que cansa de mim, eu só canso de escrever tanto e não dizer nada, pelo que sinto posso deduzir que expressar pode até ser difícil ou impossível e fico meio feliz de conseguir passar por essas barreiras de mim mesma, mesmo que seja não tão excitante assim. 
Aliás, eu só queria mesmo é colocar aqui algo, e esse algo surgiu na aula de Educação Física, onde não faço nada, por licença médica. Parece que o meu corpo está cansando de mim, se definhando sozinho e feliz enquanto eu acabo aqui, no mesmo ponto, com medo de encarar mais uma leitura e encontrar coisas minhas que vão muito além daquelas palavras. Encontro-me nas entrelinhas de qualquer leitura, acabo comigo mesma a cada noite sozinha.

terça-feira, 22 de junho de 2010

I

Ela tenta, capta todas as coisas inúteis procurando por uma distração, procurando por algo em que pensar pra fugir das teias grudadas em todos os cantos da mente e também mudar o que quer que esteja ali, pairando pelo cérebro. Ela toca a nuca com os dedos gélidos, onde o cabelo arrepia e a cabeça cai, passa os mesmos dedos estralados incansavelmente pelos ombros, ossos. Ela não quer fugir, continua e logo encosta em algumas costelas que saltam e podem ser sentidas através do agasalho, não se sente bem. Encolhe-se no banco, foge de pensar, tenta cantar algo enquanto as edificações passeiam do lado de fora da janela, correndo no sentido oposto aos olhares, sente o cheiro do vento dando tapas em seu rosto. Não quer, não prefere, foge. Disso ela gosta. Descer do carro, um dia a mais, ótimo, pensa, talvez esteja acabando. A cada batida do coração, é só tempo a menos, é só mais uma rachadura se criando no órgão debilitado, é mais uma tentativa louca de respirar enquanto o estômago solta gritos e socos e o mundo gira ao seu redor. As pessoas só a roubam, sua vida, sua aparência, o pouco que sobrou de felicidade, elas retiram tudo e deixam ali uma coisa seca, mas seca de dentro pra fora, que só pensa no dia em que vai acabar. Acabe logo. Ela não vai deixar as coisas irem embora, ela só vai tentar mascará-las, para que a dor seja maior quando descobrir o engano à si mesma. Não que não tenha coisas para mostrar, ela só faz si mesma acreditar que não há nada que possa ser exibido, e crê tanto nisso que sair da mentira tem sido difícil, se tornou praticamente impossível. Ela não consegue viver consigo mesma. Espera que o amor venha à tona, ela tenta manter as portas abertas para ele. Ela ainda tenta, ela só queria um presentinho revestido e recheado de amor, para ver nas coisas mais belas e suaves uma motivação, para suportar com um pouco mais de animação. Complicado conviver com flashbacks de todas as coisas ruins enquanto se tenta ser algo bom. Ela só quer ser algo bom. As lágrimas descem e ela só queria que a alma fosse junto, ela queria poder arrancar os pedaços podres com cada corte e vomitar o coração nos momentos de desepero, e quem sabe, ela não o fará qualquer dia, um deus qualquer em que ela passe a acreditar pode conceder isso, não? Ela sabe que tudo que pedir, é demais. Ela entende que não há saída, ela sabe que só mudará quando houver drama. E ela só quer uma vida sem dramas.

domingo, 20 de junho de 2010

Meu viver

Noção de quanto tempo faço isso comigo, não tenho. Não espero motivar pessoas através desses textos que faço, eu sei que até posso, mas espero me motivar, enxergar o que há e me dar algum conselho que preste, deve haver algum, dentre tantos que tenho, dentre tantos que digo. Uma certeza doida que não vai dar certo, que sempre vai ser do modo como eu sei que vai ser. Mentalidade de física, 'eu entendo, eu posso prever' e, claro, essa vida toda eu só tenho feito isso, tentado prever o que vai acontecer pra agir de outro modo, ou do mesmo; sem considerar que a vida é imprevisível e todo esse blá blá blá. Poxa, é maldadade tamanha querer desvendar o destino, querer ver um pouco além do que todos veem, só prase sentir viva? As coisas se desdobram facilmente, é só deixar acontecer, ouço isso constantemente. Como se fosse muito fácil uma infância inteira de decepções e ilusões desaparecer, assim como as retas tortas ou os números errôneos que mostro no papel, e apago incansavelmente tentando repelir o erro da mente, não só da folha, como se as dores não fossem profundas o suficiente para estarem presente e não deixarem uma pessoa conseguir um pouco de paz. Encontro algumas saídas, comprimidos, horas a fio dormindo, exercícios, livros, tv, amigos. Bastar, não bastam, mas a vida se trata de distração, uma coisa que sei fazer bem. Decorar as falas daquele filme, aprender a tocar aquela música, organizar coisas por ordens; isso, é o que me deixa aqui, me prende ao chão e à realidade e me mostra que serei uma boa pessoa, superficial e esquecida, quem sabe até com porte pra erudita enquanto pode se mostrar frágil para o primeiro que tocar naquele ponto, naquela maldita lembrança que mantenho presa atrás de algumas lágrimas. Às vezes coisas bobas me motivam, assim como uma pessoa normal, com os 'pequenos e bons detalhes da vida' apreciados e todas as coisas boas guardadas nas lembranças, pra virarem adubo. Mas, ser normal me mataria, me esgotaria muito pelo menos. Enfim, continuo aqui, com paradoxos e confusão, com cansaçoo e muitas falsas coisas para pensar.

Compreensão

Se manter confortável, é só o que fazem, fazemos, faço. Me impressiono do modo como sempre achamos que nunca é suficiente, que poderia melhorar, mas o comodismo nos matem ali, nos força a continuar. Queria ter muito mais força de vontade. Tudo é tão irreparável, aqui comigo, que me sinto como se fosse desabar a cada tontura, mesmo me mantendo feliz por dentro, por aguentar, por estar suportando, por ser tudo contraditório e eu ainda resistir. Inconsequencia? Necessidade, de ter algo com que me importar, e que esse algo seja comigo; apesar dessa máscara toda de vaidade ser uma camada que cobre o que quer tenha aqui, que eu não consigo disfarçar com outra coisa, nem encarar para mandar para bem longe de mim, longe de me deixar fazer mal à mim mesma. É tão mais fácil sentir as gotas salgadas escorrendo pelo rosto esperando que a tristeza se vá em forma líquida também, é muito melhor você se fechar e ouvir um cd novo, ler um livro do que pensar, é até revigorante você superar as metas sem sentido que a tua cabeça te impõe, só pelo fato de que você não precisa encarar. Não agora, não enquanto ela se mostra, enquanto ela está exposta, enquanto parece recente. O tempo que a tire de todas as atenções, ou quem sabe, aqueles comprimidos me tirem de mim, e depois, quando for uma grande cicatriz, eu posso pensar em resolver. Sei que não vai ser melhor, mas as consequências, quando tiradas da minha frente, se tornam mais solúveis, quase quando se sente que vou adaptar-me, mas com um pouco mais de tempo que levaria uma pessoa normal. Sempre é diferente, comigo. E de qualquer modo, eu não estou nessa pra ganhar muito, então, o que eu levar no final, já é coisa demais; e, considerando que as coisas que são demais pra mim, levam algum tempo para serem processadas, veremos como sobrevivo à mais alguns dias, meses, anos.

sábado, 19 de junho de 2010

Difícil?

Fico só imaginando o momento de alinhar as roupas nas malas, de ajustar objetos nas caixas e talvez subir a escada pela última vez, olhar fixamente naquele espelho (coisa que nunca tenho coragem de fazer), sentir o cheiro das toalhas e sorrir para o cômodo vazio. Não posso mais passar três anos aqui, sufoca, esgota. Cansa. Talvez seja isso, eu fique feliz e tenha uma vida melhor, mais serena ou então volte pra aba do meu pai, porque é o que fazemos sempre. Mas eu não posso arriscar o talvez, eu simplesmente tenho de sair e viver do jeito que for, como qualquer outra pessoa que resiste às coisas sem perceber, que passa os dias só pensando em outras coisas, se distraindo porque é melhor que encarar, melhor que ver a grande infelicidade ultrapassando os dias e penetrando na mente, no corpo, na alma. Eu não confio no talvez. Pode ser, que o homem debaixo da cama se torne outra coisa quando vira o homem em cima da cama, como se o sonho se despedaçasse só porque se tornou real, mesmo sendo assim que acontece quando acordamos, mesmo sabendo que quando abrir os olhos, os pedaços de magia ebulirão. Mas eu preciso crer, preciso considerar tudo e, mesmo assim acreditar, porque eu vivo disso, de saber que eu vou poder, mesmo que impedida, eu vou lutar, e eu vou saber no final que vai ser diferente do que imaginei, porque tem de ser. Tem de ser algo que eu não espere, que não anseie. E nisso, entra o homem debaixo da cama. Ele não pode ser o mesmo em cima dela. Mantenho a fé. Afinal, qual é a graça de se viver assim, do modo como está? Aguardo sim, com uma expectativa imensa o momento disso tudo mudar, do meu modo. Pois esse interessa. Dane-se se o homem debaixo da cama mudar, se acaso se tranformar em algo pior do que o que está em cima dela, eu o quero do mesmo modo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Possessa

Me acanho aqui dentro de mim só pelo pavor das linhas em branco, pelo medo de colocar ideias e depois sentir saudade delas, como se o meu estoque de 'bons', 'felizes' ou 'doces' fosse acabar, como o medo antes de mastigar o último pedaço de chocolate; mas é também como se eu não pudesse respirar se não escrevo, se não passo por cima do tempo e das dores físicas para deixar algo por qualquer lugar que seja, é como se eu não estivesse com o pouquinho de vida que me pertence. A que pertenço. 
E me diz, gostar é errado? Gostar dessa loucura toda, de escrever por necessidade e sofrer a cada vez que derramo as palavras no papel, gostar de ficar melhor depois de duas mil palavras e também um pouco ressentida e nada orgulhosa de ser tudo uma grande coisa de nada, de talvez serem só essas meras palavras que ficarão por um tempo e se despedaçarão, formando um perfil de uma pessoa que não vivia bem. Gostar de botar o que for aqui, na folha, na risca do lápis, só pra me sentir bem consigo mesma, só pra continuar acreditando que as palavras salvam, só pra continuar forte se sentindo um pouco menos frágil, por ter essa oportunidade, de expressar (ou tentar) o que for, inexplicavelmente. 
Algum dia eu queria ter o poder, o poder de escrever para algo, para alguém, para mim. Para ficar feliz não um pouco aliviada, para sentir algo de verdade e não ir aprendendo até ver que não consegue, para poder acalmar um momento, ouvir as batidas do meu coração e só escrever o que vier, indiscriminadamente, sem apagar, riscar ou achar que é ruim. Eu ficarei feliz, terei até quem sabe um pouco mais de carinho excessivo com o que digito. Quem sabe. 
Palavra, poder, possibilidade, póstumo. Não posso encontrar coisa melhor que escrever, além de fechar os olhos e esquecer de tudo. Mas prefiro encarar, escrever e expor a mim mesma o que nego sempre que possível, ler ali naquilo qualquer que fiz, o que sou, ou tento ser, ou quero ser, ou simplesmente tentar ler, tentar entender. E eu me entendo melhor com palavras que com pessoas.