sábado, 19 de junho de 2010

Difícil?

Fico só imaginando o momento de alinhar as roupas nas malas, de ajustar objetos nas caixas e talvez subir a escada pela última vez, olhar fixamente naquele espelho (coisa que nunca tenho coragem de fazer), sentir o cheiro das toalhas e sorrir para o cômodo vazio. Não posso mais passar três anos aqui, sufoca, esgota. Cansa. Talvez seja isso, eu fique feliz e tenha uma vida melhor, mais serena ou então volte pra aba do meu pai, porque é o que fazemos sempre. Mas eu não posso arriscar o talvez, eu simplesmente tenho de sair e viver do jeito que for, como qualquer outra pessoa que resiste às coisas sem perceber, que passa os dias só pensando em outras coisas, se distraindo porque é melhor que encarar, melhor que ver a grande infelicidade ultrapassando os dias e penetrando na mente, no corpo, na alma. Eu não confio no talvez. Pode ser, que o homem debaixo da cama se torne outra coisa quando vira o homem em cima da cama, como se o sonho se despedaçasse só porque se tornou real, mesmo sendo assim que acontece quando acordamos, mesmo sabendo que quando abrir os olhos, os pedaços de magia ebulirão. Mas eu preciso crer, preciso considerar tudo e, mesmo assim acreditar, porque eu vivo disso, de saber que eu vou poder, mesmo que impedida, eu vou lutar, e eu vou saber no final que vai ser diferente do que imaginei, porque tem de ser. Tem de ser algo que eu não espere, que não anseie. E nisso, entra o homem debaixo da cama. Ele não pode ser o mesmo em cima dela. Mantenho a fé. Afinal, qual é a graça de se viver assim, do modo como está? Aguardo sim, com uma expectativa imensa o momento disso tudo mudar, do meu modo. Pois esse interessa. Dane-se se o homem debaixo da cama mudar, se acaso se tranformar em algo pior do que o que está em cima dela, eu o quero do mesmo modo.

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