quinta-feira, 15 de julho de 2010

Hoje

Não sei o que desgasta mais, se é a dor que eu causo ou as palavras que atingem as dores, não compreendo mais nada. Fico seguindo em frente, acordando a cada dia, comendo alguma coisa, pensando em nada e assistindo desenhos para me distrair e então, chega qualquer um, com quaisquer dizeres e esses me levam às lágrimas, me levam à raiva e logo às promessas de que vou me afundar de novo. E logo, um novo dia, um novo delírio, um novo desgaste.
Como se não bastasse meu coração levar o sangue à cada ferida nova e velha em cada pulsar forte e sacrificado, as que ainda não cicatrizaram só doem mais e as que já cicatrizaram não me deixam esquecer que existiram, com a cor e a textura diferente do resto da pele. Minha pele é meu manto, é minha imagem e minha máscara. Você nunca saberá nada de mim além de que tenho uma bela aptidão para ser atriz.
Eu só queria para de ser tão fraca, tão fraca a esse ponto. Eu só quero que tudo pare, o tempo, a vida, o meu ar, eu me viro depois, eu sempre acabo me virando, com ou sem pessoas eu ainda estou aqui, com ou sem conselhos eu ainda estou aqui, com ou sem razão eu ainda estou aqui. Só precisava que entendessem e me deixassem sim, me afundar nos cobertores todos que deixo jogados na cama porque me dão um conforto que talvez eu nunca tenha, que me permitissem viver de água e também, parassem de insistir, parassem de dizer o que dizem porque eu sei o quão difícil é ser esse parasita, esse peso morto, esse livro em branco, essa ferida imensa e intocável, não é complexo de inferioridade, é realismo. E eu sei que sou realista, porque mesmo sendo um nada ainda tento compreender as coisas que se passam, e mesmo caindo cada vez que tento respirar eu continuo. O ato de continuar é digno, é verdadeiro e rotineiro, não glorificando-o, é somente bom. E seria útil se eu ainda fosse algo.

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