domingo, 18 de setembro de 2011

Distração

Os entorpecentes ilícitos e as risadas e os carinhos e brincadeiras: eles são letais. São viagens ao espaço com vácuos imensos ao redor: eu estou ali, tenho pouca sensibilidade, estou presa e quase engasgando. Então eu morro.
Revivo e desmaio novamente, dou voltas e retorno à mim, a dor diz "Olá". Os espamos, a queimação, a angústia. A desordem que é tão companheira minha entra sem pedir permissão e vai tirando tudo do lugar, como quem se acostumou à vida simples duma única pessoa. O sentimento visita-me constantemente após as festas, bebedeiras, conversas ou ataques de riso; ele sabe a hora de entrar e acabar com tudo.
Seria repetitivo dizer que dói. Na verdade, chega uma hora em que você não sente tanto porque já se acostumou, então eu pego os trocados e compro as primeiras coisas que me vêm à cabeça, devoro com a rapidez de um viciado e acabo me entregando ao mundo novamente, à sorte. 
Não dá pra medir uma coisa dessas, não tem como explicar e retratar o sentimento. Todas as tentativas ficam meio vagas, mesmo com tantos adjetivos e metáforas. Ficam meio vagas não porque é preciso esvaziar a mente para preechê-la outra vez, mas sim porque, acontece o contrário do que eu quero: me perco nas palavras e acabo não chegando em lugar nenhum.
Talvez não seja tão dolorido, na verdade, e isso seja drama de garota jovem. Ou quem sabe eu não tenha nada pra dizer e acabe inventando desculpas poéticas para colocar aqui. Quer seja o modo, ainda tem algo em mim, e eu preciso tirar daqui.
Nas vezes que ressucito dos transes, parece que não há vida e que nunca houve. Umas poucas palavras podem acabar com tudo e o meu controle refazer a derrota sobre as substâncias. Soa fantasioso, mas você só vai conseguir parar quando quiser parar. E isso serve pra qualquer coisa.
Então durante a noite eu ainda vou acabar procurando coisas que me levem pra longe da sujeira que está minha mente, seja em forma de telefonema, remédio ou leitura. Você acaba se virando, essa é a lei. Uma vez que já morreu e tornou à vida tantas vezes, você aprende que não tem como não ressurgir depois das coisas ruins. E eu aprendi que não há nada que você não consiga arrancar de si, seja com drogas, pessoas ou fé.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Curto

E eu que me criei a esses modos tão mutáveis e essa boca tão fraca em questão de mentira e esses pés tão andantes e esse rosto tão cansado; eu que me criei antes do abrir dos lábios e depois da última lágrima; eu, eu continuo forte.
Dessa vez não se trata de consciência interna, mas de estímulo externo, caro leitor. Falo sobre a conspiração, melhor, da noção dos bons atos uma vez que me deixei absorver a carícia durante a surra que levo da vida todo miserável dia, falo sobre a delícia que é respirar uma vez que o estômago foi atingido. Eu falo sobre o sabor de ser alguém após a derrota.
Digo mais, que a dor lhe mostrará como agir sobre a maior parte dos acontecimentos e que, uma vez sentida, voê anseia por mais. Não, não é desejo audacioso, podemos encara como a sede de um sentimento que desperte. (E cá estou divagando novamente sobre dor.)
Pois bem, me traga algo - não é preciso que valha muito - pelo qual eu possa viver e morrer, e será abençoado pelo meu agradecimento momentâneo. Efêmero pois, após certo tempo minha tendência é cansar; deixar de lado isso pelo qual eu mataria e procurar outras coisas para dedicar minhas pobres palavras.
Saiba, grande parte das ações humanas giram em torno do próprio ego, o que me deixa perplexa. Somos todos tão ferrados e estamos todos mais que destinado ao inferno, que, isso não é menos que encenação para a vida após a morte. Entenda: um enorme e praticamente incorrigível erro da humanidade é a descrença. E uma mentalidade que reina sobre nós é a incapacidade, assim, temos que colocar esforço em nós mesmos para que, após a crença em si ter criado raíz, podermos interagir socialmente sem medos ou repulsas.
Comigo é diferente, mas isso merece atenção posterior - quem sabe tardia -, já que agora o vento já me bagunçou e resfriou o suficiente. Deixo a lapiseira e o papel para enfrentar rotina adolescente, deixo palavras e ideias complexas para me enfiar em classes de aula e ainda deixo um pouco do esforço aqui, prostado em folha de papel e página virtual, para não dizerem que não tentei.

domingo, 14 de agosto de 2011

Crises

Só consegue-se sentir quando está próxima, como o calor, você nunca vai sentí-lo de verdade até que ele queime tua extremidade perto dele. Por outro ângulo, não é que como se você conseguisse repelir a destruição, é como se fosse sugada por ela e no final ela te cuspisse, e só então, você para de chorar.
As gotas descem quase da coloração do jeans, e a angústia exala aos poucos uma pessoa meio perdida meio salva. Desce o supiro pro peito e volta o desespero que tenta ir pela boca: não sai nada, nem gemido nem grito, só vem a falta da esperança, mas essa passa direto e vai pra cabeça.
Ali, onde tudo acontece, de onde saíram os fantasmas e de onde vem a distorção sobre o ser. De onde vem as ideias, as boas e as ruins, de onde vem o pudor e a falta dele. E só você sabe o quanto arde saber que limita-se sem vontade.
Bem, não se trata de vontade, trata-se da falta dela, da falta da vontade de continuar. Tu continua, mas só pensa na hora que vai acabar. É taxada de louca, de ridícula e suicida, mas continua. Todos continuamos.
O céu da boca queima, a visão embaça, as mãos tremem e tudo que quer dizer é o que não sai naquele momento. É a dor que não vai sar de você, a cicatriz que não vai fechar dentro de ti e a angústia, essas e outras coisas parecem criar raíz dentro de ti, raízes tão fortes que não é qualquer exército com conselhos que vai conseguir tirar isso daí de dentro.
Não tem ninguém pra dizer o que fazer, porque não tem ninguém que tenha vivido esse anseio. Ninguém tem de correr para o banheiro ou esperar o ônibus parar para simplesmente, chorar. Ninguém vai entender o quanto dói, o quanto arde, o quanto destrói.
As lágrimas vão se acumulando e logo você vai prendendo gritos porque se encontra no meio de uma sala de aula ou pior, você as segura para ver até onde consegue. Você quer luz, e a encontra bem longe de onde se afogou dentro de si. Você se perde tanto que já deve ter esbarrado no caminho certo e sem querer o deixou passar.
São sorrisos rápidos banhados à cerveja e conversas aleatórias com cigarro entre os dedos; a tua felicidade não é mais sincera. Guardou dentro de si tanta coisa que até as coisas querem liberdade agora, elas estão saindo de você aos poucos, e cada lágrima é uma batalha: uma vitória por uma mágoa saindo e uma derrota por outra dúvida entrando.
Não são as drogas ou o papo furado que vai tirar de você a dor. Depois da festa, você chega em casa e chora embaixo do chuveiro, enquanto tira o cheiro de pessoas, cigarro e alcóol de si mesma, e depois disso distribuiu beijos e palavras confortantes de boa noite como se fosse uma garota realmente feliz. Você não é.
O pior de tudo é que sabe que não, mas viveu tanto tempo no fingimento que suporta hoje até as piores verdades com sorriso no rosto. Com calma no coração e serenidade nas palavras, você sai doando migalhas que sobraram da tua vida e conselhos como qualquer pessoa boa faria. Essa esperança sem fim de se tornar boa, garota, cansou de você.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Olhar do inferno

Eu observei você fazendo sua expressão estranha ao encarar o espelho e seu sorriso enquanto a memória do cabelo chegava ao penteá-los - mesmo que quase nunca o fizesse, não era neccessário. Eu vi a cicatriz no tornozelo direito e a pinta na clavícula antes de qualquer outro. Eu olhei pra você, e todo o mundo pareceu incompleto, como se sem essa missão, minha vida não fosse ser satisfatória.
Eu não te acolhi, você não precisava disso. Você me sentiu quando a confusão e o tédio tomaram-te, mas nada além disso. Dia ou outro você tem resquícios meus, agora que me deixou, mas, querida, eu não vou a lugar nenhum. Uma vez no corpo, pra sempre na mente.
Se foi numa noite de verão ou outono, se foi de uma vez só ou aos poucos, se foi por insegurança ou influência, não sabemos. Só sei que, no momento em que a possuí, ela passou a ser minha. Porque a partir daquele momento, as coisas mudaram para nós, e, ela sempre foi daquelas que vai até o fundo, daquela que tem de chegar ao limite das pessoas para se sentir feliz. Foi por isso que eu fiquei alegre.
Durante as noites felizes, tudo que ela soube foi lembrar das pequenas regras. As bebidas que ela engolia, tão velozmente, com a finalidade de sumir, eram bombas num estômago comum à mim. E, sabendo que ela sucumbe quando quer, foi fácil me fazer objeto de desejo.
Ela cantou com a voz desigual e tocou com o violão desafinado as músicas que a fizeram fugir por um tempo de minha vista. Ela dançou no escuro e soube que eu voltaria, pois ninguém mais vê as gotas caindo de seu rosto pela manhã após a higiene e ninguém mais lhe dá um conforto sincero. Eu a abracei.
Não a tomei, ela não é dessas de pertencer; pode tentar, mas no final, não importa. Eu a beijei, a acalentei, lhe dei forças e também fui um pesadelo constante em suas noites. Tirei uma das únicas coisas boas que ela podia fazer - a voz diferente foi culpa minha -, arranquei delas as companhias - eu requeria atenção em demasia -, e também a tirei de um mundo cruelmente hipócrita.
Eu soube quando ela teria de descontar o ódio, a ajudei a procurar as lâminas e esconder a marca. Vi no espelho do banheiro o desgosto com a falta de suficiência e estive presente naquela noite, tão presente em sua boca de garota decepcionada. Quando ela tirou a etiqueta da peça de roupa e a colocou no corpo, tendo no rosto muitas coisas além de suas feições, ela sabia que eu estaria a perseguindo por entre os cantos dos vagões do metrô. Às vezes ela se perde nas palavras de uma página do livro que tem em mãos porque não consegue me tirar da cabeça, mas, anjo, tenha certeza que esgueirar-se pelos lugares que percorre só para não te perder de vista, é significativo em medida maior.
Sussurrei no meio das folhas, mas tudo que ela ouviu foi vento. Eu lhe disse 'Garota, cuidado comigo, você ainda é sã' e ela sorriu pro nada com sua samba-canção preta e o cabelo bagunçado, quando se levantou no meio da noite de um sonho que eu não pude ouvir, já que ela não lembrou. Quando ela visita a cidade grande, eu vou adentrando as pessoas que passam só para ter um olhar dela diferenciado. O meu é muito objetivo, tem proposta, porém sem prazo. Já as outras pessoas veem mais um caipira qualquer andando por aí, meio perdida, meio achada.
Então eu gritei. Minha garganta não doeu como a dela quando o fiz, mas eu falei palavras fortes ao ouvido da minha menina. Foi diferente pra mim, eu senti falta dela. Me abandonou de um jeito que ninguém faz, como se eu fosse suja e ela incapaz de compaixão. Não vejo motivos concretos para que ela volte para mim, nem para que continue seu caminho; o que é o motivo maior de nossas desavenças comuns sobre o que ela tem de seguir agora. Ela não chegou ao limite de si mesma, o limite que eu imponho nas minhas pequenas e frágeis garotas cheias de nada. Ela chegou no meu limite.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Madrugada

É noite e o inverno começou, está trazendo o sol fraco pela manhã e as madrugadas geladas sob os cobertores. É tudo ou nada, nessa corrida incessante por sensações nas doze horas de escuridão da cidade, é a sede que não cessa. E quer seja fora ou dentro de algum lugar qualquer, ela continua a acontecer dentro de você, com suspiros, desejos e sonhos. Seja onde for.
É final de junho e início de temporada. Temporada de shows, de férias, de cama e seca. Na hora em que se deixa de acreditar na verdade, em que se descobrem os segredos, em que você ignora as ordens para colocar em prática uma particularidade, é a hora de decidir: fugir ou rugir. Como se as luzes fossem suficientes para ofuscar os olhos e também para iluminar o caminho. Você está em cima do muro.
É dia de colher as notícias referentes ao pecado do dia anterior, da noite vívida, do fim de tarde emocionante e da manhã singela. Dia de se referir à você mesmo como apreciador de bons vinhos que não soube dizer à qual safra pertencia o qual usou para se embebedar ontem. No caso de uma droga nova surgir - seja pó, haxixe, cigarros, uma mulher -, você talvez se lembre que não possa sucumbir; e então, ceda.
É o momento de quebrar o acordo que vive dentro de você. Momento de tirar de dentro o que te mantém tão puro e virginal, é chegado o minuto em que tudo se resume à sensação cortante sugando suas energias e tomando sua atenção. É a decisão, de seguir em frente e suprir uma necessidade com sofrimento ou parar no tempo e não conseguir seguir mais.
É hora de decidir o que fazer com o demônio em si, deixar-se lamber a alma por algo almejado ou descartar o meio fácil para o sonho com um pontapé no problema que pode ser solução. Hora de tirar o casaco e ir à luta, com adaga e olhos fechados. Momento de tirar de si o esforço e, além de estampá-lo por sobre a mesa do jogo, remontá-lo com incrível destreza.
Chegou o que tanto se esperava. Chegaram as noites em claro com toque de tédio; chegaram as verdades não mais cuspidas e sim, sussurradas; chegaram os dias curtos com lembranças de poucos sonhos; chegou o momento. Logo chega o outro mês, e o outro, logo chega o outro ano e logo chega a lápide. Logo chegam as honras, a motivação falsa e o sacrilégio incompensável. Hoje é noite e dia, hoje é tudo que eu não queria.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

III

Surpreendentemente, dessa vez ela não chorou. Soube no exato momento que deixar escorrer a angústia seria o erro, e talvez esteja no caminho certo (conta sua mente) para o acordo entre a alma e o corpo. Só talvez.
Porém, não resta muita coisa de valor. Apenas algumas lembranças vazias de abraços vagos, remédios demais na caixinha do banheiro e lições aprendidas, além da vontade imensa do pecado. Essa energia louca que vem do nada e toma as ideias, jogando deveres no lixo e expulsando rancores recém-chegados na felizarda. São tardias, a cura e a consequência.
O fogo dançando por entre os atos, tão ardente e atraente. Ela cedeu, é verdade. Ela cederá novamente, é verdade. Mas hoje não. Além de ter seu tempo diminuído no último mês, encontrou um trago de vida na bituca da última droga que achou. E ela encontrou o amor, que queima mais rápido que papel por entre o cérebro e as ações.
Dessa vez, não sorriu, não viu motivo. Vê que, ao mesmo tempo em que se entrega à vida, perde o sabor de uma morte lenta e justa. Lhe parece até pecado tombar-se tanto na direção do ar, lembra-se dos tempos em que se desafiava à prender a respiração. De um rápido afogamento real na aula de natação do colégio particular. É sempre tão rápido.
E é claro, pode ser a garota do sorriso quebrado e constante, a menina dos olhos de chocolate e cabelo de criança; e se transformar tanto no outro segundo que as pequenas partes de todo seu corpo, perdem a forma. A sua modelagem inicial se torna perdida, mas logo a reencontra, quando busca força sozinha.
Estar sem recursos é ver que não há ninguém além de você para te salvar. É contribuir para sua derrota, ao mesmo tempo em que torce para a vitória; ter de usar o remédio e reinar em ti a dosagem do veneno; sorrir e comentar problemas rotineiros com a alegria de um adolescente ao mesmo tempo em que não tem aonde se agarrar dentro de si mesmo. Uma vez que você não existe mais, lá se foi mais uma chance de viver.
Passa-se à subsistência por meio de miséria de calor, de sabor. Na realidade, não tem tanto gosto assim, só distrai, mantém a luz do pisca alerta acesa, mesmo que o motor já tenha fundido. E, mais uma vez, ela maravilha mostrando a todos o quão diferente pode ser.
Noção de mudança todos têm. Ela tem necessidade, anseia por isso. Não como nas ânsias de retirar o que considera ruins - isso já é automático -, mas sim, como se fosse só preciso e presente. Mesmo que não a queira, ela estará lá. A sua doce verdade e sua drástica mudança.
Mesmo sendo dramático, é assim que é visto. Mesmo sendo complicado, é simples quando feito. Mesmo que tenha todos os recursos - coragem e tempo -, ela ainda encontrará maneira de fugir de si mesma. Foi sempre assim que lutou, contra o mundo e, primeiramente, contra si. Não é difícil depois de um tempo. Ela aprendeu a lidar com as guerras dentro de si mesma tão bem que hoje é uma das melhores pessoas a quem contatam quando precisam de tréguas consigo mesmos.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Iniciando junho

Posso dizer tantas coisas aqui, que fico atordoada de pensar no que eu realmente deveria colocar em palavras, o que tem de ser expulso de mim, jorrado pelo papel e em digitações rápidas.

Afirmo que as estações frias me fazem bem. Elas tornam todo o meio externo favorável ao meu meio interno. Ao meu ser. Quando eu tiro a blusa de frio no meio do vento, é porque eu preciso sentir. Eu sinto pulsando dentro de mim uma compatibilidade, e isso acontece quando tenho espamos e minhas extremidades ficam insensíveis e roxas, é tão, complementar. Age como um tradutor e une a calamidade fria de mim com o vento gélido soprando os fios de cabelo no rosto. É surreal.
Não sei se consegui mostrar meu ponto. De repente, você encontra algo que seja tão similar a você que faz a dor ir passear, faz com que tu se encontre no meio de uma multidão só porque lavou as mãos na água a cinco graus Celsius. E, no mesmo momento em que a água corta sua pele, incendeia algo muito grande em você. Essa compatibilidade coloca fogo no seu ser.
E bastou a faísca da estação para te colocar de volta em você mesma, veja bem, é só a mudança na posição do planeta que te fez ficar assim, radiante durante os dias em que o astro maior se recusa a aparecer durante um tempo. E, eu sinto. Começo finalmente a parar de fingir as emoções humanas e me mostro rica em expressões e palavras bonitas, porque durante o frio, é mais agradável, porque é mais agradável quando se sabe quem é.
Eu rio, eu como, eu beijo, acalento, abraço e aconselho. Me torno única durante esses meses, tornando-me ao mesmo tempo, incrivelmente mutável. Decido o que vou ser. Assim, uma vez encontrado o que tenho na realidade, encarando meus problemas em meio à gotas da garoa matinal, revejo os conceitos e mudo, transformo, agrego e desapego. Então, eu fico feiz não somente por me encontrar, mas por me recriar. Moldada, descontruída e refeita. Como eu disse, é surreal.
Por isso quando estou quieta, sozinha, não me deixe. Me dê atenção, provoque-me, irrite-me, faça algo. Nem sempre as minhas mudanças são boas, às vezes são só o desespero correndo entre meus atos, enquanto eu fico estática esperando passar, aproveitando a sensação térmica de poucos graus. Em algumas delas, sei de verdade o que estou fazendo, mas nunca sei diferenciar as duas situações. Só sei de uma coisa: o outono e o inverno estão comigo.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

16

Não sei como as lágrimas ainda não possuíram meus olhos, mas vamos começar um resumo. Uma dissertação pessoal, sobre o que deixou e tornou a ser, sobre o que deixei e tornei a ser. Talvez assim elas libertem isso que está engasgado em mim, ou talvez o nó seja só porque eu fiz coisas erradas.
Me lembro pouco do meu último aniversário. As coisas foram surgindo, logo no domingo de manhã, e acabaram como sempre: com choro, angústia jorrada pelos olhos. Juro que não sei explicar como isso acontece comigo, como as coisas ruins são atraídas pra mim nesse dia. No mês seguinte, eu estava nove quilos mais magra e cinquenta por cento mais infeliz; a minha única alegria era subir na balança e ver números diminuindo. Passei o maior tempo sem comer que já consegui, e depois de uma viagem, recuperei tudo que perdi. Foi um dos maiores desgostos da minha vida.
Quando eu retornei da viagem, caos e brigas e choro. Isso é tão presente na minha vida que, se não acontece, estranho. Os meses de agosto, setembro, outubro e novembro foram apagados da minha memória, eu não lembro de absolutamente nada sobre eles. Só alguma coisa vaga sobre remédios para emagrecer, nada além disso.
Apenas uma coisa além. O palco, a voz forte, a expressão desesperada. 'And so i wake up in the morning and i step and i take a deep beathe'. Tudo que eu lembro é de gritar o mais alto que eu podia, e ninguém me ouvir. Ninguém compreender, todos apenas dizerem que foi ótimo, e até convite de banda eu receber. E essa coisa entalada na minha garganta.
Dezembro, festas. Um casamento horrível, onde não houve nada que me animasse. Um natal lamentável, onde passei grande parte do tempo calculando quanto tempo demoraria pra eu melhorar. E, ano novo vergonhoso. Nunca tinha me sentido tão objeto na minha vida. Janeiro foi marcante, eu estive no alto e no baixo. Reencontrei pessoas, chorei muito e me despedi de uma das coisas que me moviam. E então vieram as aulas.
No começo estava tudo, normal. Eu estava diferente, tudo estava diferente. Mas, chegaram as notas. Voltou o choro, voltou a fome, voltou a desgraça. Voltou o descaso.
Isso é reflexo de tudo que acontece comigo, absolutamente tudo. Tudo vai virando uma coisa feliz e basta um gesto para que meu mundo desmorone. E quando ele desmorona, ou me leva junto ou eu o acompanho, por ser tão solitário; sou altruísta e vejo nisso, ajuda.
Passou fevereiro, março. Em abril eu vivi, gritei, pulei, tomei chuva, louvei ao rei das trevas. E nesse tempo, eu já estava bem de novo, digo, comendo. Passou-se maio e quando chega junho eu perco tudo.
É quase como um recomeço forçado. Não há nada que se estabeleça firme durante junho, nada que se mantenha ativo, forte. Em junho eu sou papel, que amassa, estraga e se molhar, já era. Sou frágil a esse ponto. Fraca ao ponto de recorrer à esses métodos, à destruir meus dentes, meu estômago, meu fígado e meu coração, só porque estou confusa. Sempre tento não me confundir nesse meio tempo, nesse mês perigoso; não consegui nenhuma vez.
Creio que no final eu só não consigo mais. Colocar um sorriso sincero no rosto e continuar mesmo com as cicatrizes me atormentando, tem se tornado cada vez mais difícil. Tenho minhas distrações, tenho minha vida social, mas tudo é vago. Tem sempre o espaço dos meses no calendário, o espaço da refeição do dia anterior, o espaço de tempo que eu tenho até meus parentes chegarem e eu conseguir vomitar isso aqui, o espaço dentro de mim.
Não sei explicar isso. Eu tenho conseguido explicar poucas coisas, digo, poucas mesmo. Meus problemas de concentração estão cada vez piores, minha motivação indo pro lixo, meu corpo devorando a si mesmo e eu aqui, perdida dentro de mim.
Simplesmente não consigo mais me encontrar. Tem sido árduo até visar algo pelo qual respirar, pelo qual sofrer e amar. Tudo que eu quero está tão perto e tão longe. São tantos paradoxos, que eu não me acho com, entre ou neles. Eu simplesmente não me acho.

sábado, 19 de março de 2011

You can tell Jesus that the bitch is back

Então depois que você leva tapas na face e chutes no estômago, o pensamento de controle faz sua mente de marionete e toma conta de tudo que você pensa. Mas falta o conforto. 
Você não o encontrou na bebida, no cigarro, nos amassos, nas mentiras, nos dedos na garganta e nem nos litros de água. Você não se permite, ou simplesmente não consegue deixar que alguém o mostre por você. Você se perdeu e o caminho para si mesmo não é fácil. É tão visível essa limitação que você se dá, as frases negativas e os silêncios que frequentam tanto tua vida. Teus sonhos com doses generosas de descrença. Tua força falsa, teu olhar vago, teu sorriso cansado e tua vida, que para qualquer um é boa e para você, insuficiente. Esse desejo de algo diferente, de ocupação das coisas que ainda não são suas. A rotina, que mastiga e cospe e repete o ciclo durante os dias. 
Mas é a vida, mocinha. Você que tanto ansiou pela rotina, pelo estudo quando tudo que se quer é descanso e o trabalho, quando se deveria estar tendo lazer. É a vida. E ela está quase toda em suas mãos garota, quase toda. Aí está o teu controle.

terça-feira, 1 de março de 2011

Carta de amor nº 08

Essa é a primeira carta de amor a qual redijo que será efetivamente enviada. Há dentro de mim um misto de medo e excitação, só por pensar que o meu querido terá em suas mãos uma declaração tão íntima.
Adoraria dizer aqui como as coisas entre nós foram se transformando e tomando essa forma, de paixão avassaladora e amor cuidadoso, mas, anjo, eu não sei dizer como isso aconteceu. De repente as promessas de abraços longos e de olhares profundos se tornaram insuficientes e deram lugar à cobranças doces de beijos e lugares para dormir. Ao que quer que tenha mudado os planos e a convivência entre nós, eu agradeço imensamente.
Estive divagando: existe coisa mais romântica que uma carta, com destinatário, remetente, palavras verdadeiras e selos de papel e amor? Não consegui chegar à uma conclusão plausível.
Mas existem outras questões importantes, como o que realmente acontecerá quando eu estiver do lado oposto do corredor do aeroporto, com sorriso e talvez lágrimas na face. Será que nosso momento de triunfo, querido, nosso toque explodirá tanto quanto uma bomba atômica e expulsará todas as memórias ruins.
Nos meus devaneios acordada, eu repito as nossas cenas juntos como se estivesse atrás de algum erro, veja só, um erro em minha maneira de imaginar cenas! Parece bizarro, mas se algo der errado eu não me perdoarei.
Já me acostumei à isso, como também já é comum quando o assunto vem à tona, eu dizer que tenho namorado. É um pouco estranho, mas quando o faço, logo coro e sua imagem vem à cabeça. 
Como eu pude ser correspondida por algo tão bom? Por que, pra se encantar não é difícil, mas, saber que dessa vez não estou sozinha numa paixão me alivia tanto!
Não há um dia em que eu não leia suas correspondências e me ilumine só de pensar que, comparando ao que já temos, falta pouco para nós. Fico tão feliz ao dizer nós.
Com o teu olhar carinhoso e ter rosto belo eu pude encontrar muito. Dos teus lábios saem minha motivação, das mãos que escrevem tão bem leio nosso destino, da força que se reflete no corpo eu tive apoio, e tenha certeza que de mim, terá tanto e o que mais eu conseguir oferecer de bom à você, meu grande amor.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Carta de amor nº 07

Creio que esta seja minha última carta destinada à ti, e eu ainda não sei dizer o efeito que isso terá sobre mim.
Tenho certeza que nem se recorda do meu nome, que dirá da minha imagem, minha voz, meu cheiro e meu jeito. Porém, eu me lembro bem de todas as coisas, todas, meu bem. E fico imaginando se eu deveria me comunicar, mesmo tendo a convicção de que eu já sou passado sem importância dentro da tua cabeça.
Queria ao menos ter acesso à essa sabedoria, à ideia do sim ou do não, vindo de você. Mas não não posso, porque se ainda houvesse alguma ponta de desejo por mim em você, eu não estaria aqui exercitando minha memória, mas sim, contando meus estranhos sonhos a ti enquanto sinto tua pele sobre a minha.
Confesso que temi muito esse momento, o instante em que eu me cansaria de ser a única interessada numa relação inexistente, a chegada da sensação de que minha cota de tempo destinada à você, esgotou-se. Veja, não é um sentimento confortável, é como andar na garoa quando se está de mal humor: se estivesse feliz, estaria sendo ótimo. É bem isso, se houvesse alguma correspondência tua, o efeito que pairava sobre mim no começo não teria se dissipado.
Eu sinto dizer isso, tanto que fugi do papel para não encarar essa realidade. Longe de meu encanto por você ter diminuído. É que nada solitário se iguala à um prazer em conjunto e minhas forças para expressar uma beleza que você certamente não vê, estão no seu amargo fim.
Não o meu, nem o seu ou até o nosso final, mas sim, daquilo que me movia a escrever mais cada vez que me exaltava por ti, a cada sonho, a cada batida mais forte do meu coração fraco e, a cada situação totalmente imaginada.
As minhas palavras ficam escassas diante disso, honesta e misericordiosamente. Você foi o meu sorriso, meu fôlego minhas alucinações e meu lamento por um tempo. Felizmente, isso não significa que se foi, mas, por infortúnios, o radiar dentro de mim não se deve mais à ti.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Carta de amor nº 06

Só estou escrevendo porque você me surpreende, mesmo (você e os teus pensamentos) estando bem longes de mim. E eu que achava que depois da minha última carta meu sentimento por ti havia diminuído! Fui ensinada que nada é tão bom como o que vem inesperadamente.
Acordei às quatro e cinquenta da manhã, por tua culpa. Não pelo abraço longo e que me trouxe lembrança do teu cheiro, nem pelos beijos trocados romanticamente mas sim pela luta que travei, uma luta sem sentido e perdida, já que no final de minha boa ilusão, eu me encontrei desesperada e sem resposta, tua.
Não é de meu agrado que eu fique assim, abandonada por essa sensação que, de nada valerá negar, você também sente. Creio que ninguém além de mim faça alguma ideia de como eu ficaria alegre, e como isso duraria por semanas se, ao menos recebesse uma mensagem tua, um telefonema que me desse acesso à tua suave voz.
Nem sei ao certo à que sentimento devo dar atenção, à felicidade que transborda quando você surge ou à tristeza que aparece quando me lembro que não passa, nem passará, de algo platônico.
Me encontro nesse dilema, terrível. Por um lado me delicio escrevendo detalhadamente sobre ti e as tuas características que me seduzem, saboreando uma doçura e beleza sem iguais. Porém, pelo outro, sinto náuseas ao pensar que haverá esse pedaço e esses atos que nunca se consumarão, e às vezes, simplesmente abaixo minha cabeça e inevitavelmente, meu sorriso me deixa.
Querendo ou não, terei de aceitar esse ar vago que o lado ruim me traz, já que és a motivação dos meus dias de agora, o que eu busco nos meus sonhos, o que me arranca suspiros e o que me mostrou esse misto tão bonito de paixão adulta com inocência adolescente e certeza correta e erro inevitável.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Carta de amor nº 05

Eu te sinto tão forte que parece que ainda estou ao teu lado, meu cabelo no teu ombro, minhas palavras inúteis bem ao pé do teu ouvido. É possível ver esse ar calmo que exala de mim desde que te conheci, te abri um espaço aqui dentro, e nos despedimos.
O desejo é tão forte! Quem sai vencedora nisso é minha imaginação, tão criativa e, claro, eu que desfruto sozinha de momentos que nunca existiram.
Incrível como cada traço teu fica mais forte quando eu dou a liberdade à minha mente. Teus olhos tão vivos, tão empolgantes, tua boca tão vidrante. Juro que em certos momentos me deixo levar pelo impacto que lembrar dela traz e são nesses em que experimento todo o sentimento, cru, nu e tão delirante.
Vejo nós dois, apenas nós em nenhum cenário, vejo você e todos o esplendor, a beleza e esses olhos que me deixam tão sem jeito; consigo sentir tua boca explorando a minha e me percorrendo como um doce, com o único objetivo da satisfação, até o lugar onde nenhum outro teve acesso. Você percebe minha relutância em contraponto com esse desejo que arde, se volta para mim, para o rosto que eu esconderia se pudesse pois tu, és tão mais que eu! Mas então se tornou minha vez.
Com essa inexperiência, vou tão rápido ao seu ponto crítico que nem percebo que já passou da hora de algo estranho à mim acontecer. Só que sou daquelas que gosta de brincar e no meu jogo, minhas vontades são feitas.
É a vez da minha boca, minha mente voando e girando em meio ao cosmo de tão alta a pressão e temperatura, mil beijos selados em teu pescoço, nuca, boca, peito, quadris, tudo! Tudo o que me leva à esse estado está aqui, e eu me deixo à sua vontade agora, pois nesse ato, as sensações são tão profundas quanto os gemidos e esses, por sua vez, nos mostram que ainda há algo por vir.
Algo que você me mostrou, e, por ser só esse jogo que meu cérebro mostrou em images para me distrair, eu continuo emanando essa carência que incrivelmente só precisa de você para saciar, à si e à mim.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Carta de amor nº 04

Você me fez esquecê-la ao mesmo tempo em que me encantava. É clichê, mas a primeira vez que te olhei eu suspirei internamente com toda a força de uma coisa que eu não sei explicar. Só me deixa dormir contigo ou passar outro dia ao teu ado. Apesar d'eu ficar envergonhada sempre que vira teus olhos na minha direção, eu prefiro que eles me deem alguma atenção de verdade e não esse vago brilho que eu imagino que tenham quando recebe minhas mensagens.
Me satisfaço só de pensar em você. Eu rio quando lembro de suas frases, sinto vontade de voltar a massagear suas mãos menores que as minhas, meus dedos se esmagam em si mesmos se me recordo dos movimentos no teu cabelo, tão arrumado e atrativo, como tudo que minha memória me deixa ter acesso. Esse sorriso que surge em flashes quando fecho os olhos, a minha vergonha e cabeça baixa por ser tão irresistível.
Me faz falta ter alguém que me dê um frenesi, uma vontade, só que isso se multiplicou pela distância de um ano-luz contigo; creio que seja porque seus sentimentos por mim não são nulo mas, a cada situação ocorre algo diferente e, essa é a vez de o motivo pelo qual meu sorriso bobo me invade a todo momento, ser você.
Você e todos seus significados subliminares, você e a minha vontade de você, você e sua atitude, suas piadas, seus afagos de cabelo em mim, sua desculpa fraca. Você e a sensação de que é melhor eu sugar tudo daquele único dia porque nem ao menos me responde mais.
Eu sinto muito pela minha idade, sinto muito por não ter o tipo de voz que me aproximaria mais ainda e até, por não ser tão bonita, tão doce ou tão mulher. Mas isso não significa que você será esquecido, longe disso. Ainda extrairei textos e, quem sabe, histórias de ti.
A verdade é que nem os pontos negativos conseguem ofuscar toda essa luminosidade que trouxe à minha vida, esse ar fresco e correto, esse querer que me consome, esse romantismo que se mescla com sexualidade, bom o suficiente para me convencer que vale a pena me entregar.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Carta de amor nº 03

Cheguei ao ponto de criar eventos e situações só dentro da minha cabeça para te ter por perto; parece que quanto mais penso em você, mais presente você se torna, menos longe de mim fica.
Engraçado que você não deve refletir tanto quanto eu e na verdade eu não o faço muito mas, quando o faço, guardo as esperanças bem longe da mesa de trabalho, pois ficará difícil se eu as incluir nessas pequenas ilusões diárias que, secretamente, me mantém agitada ao longo do dia.
Esse telefone que não toca e essa caixa de mensagens que não recebe nada. Essa lacuna. De certo modo, isso é momentâneo, mas exala quando sei que iremos e nos encontramos, como um ímã que fica mais forte à medida que se aproxima de outro.
É uma carta mais curta que as usuais, simplesmente porque eu ainda não sei explicar o que acontece comigo, com você.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Carta de amor nº 02

Algo no ato de pensar sobre você ou na maneira como/quanto/porquê o faço soa tão errado. Parece-me que minha mente condena isto, e é indiscutível porque, sempre foi diferente e fora do comum eu passar tanto tempo com uma só ideia na cabeça.
Dói sentir sua falta. Olhar para o lado e não te ver, com seus trejeitos tão fortes. É mais um espaço em branco na minha vida a preencher.
A pior parte é o partir. As despedidas mal feitas e o olhar, desesperançoso, a lucidez quando se percebe que já foi. Como se com você, tivesse ido meu ar, meu pulso e qualquer outra coisa vital que possa ser arrancada. Como se as memórias que tenho de você, dos nossos momentos e aconchegos, tenham sido levadas pelo simples movimento dos teus pés na direção oposta ao meu encontro.
Eu criaria um universo para você, só para ti. E esse sede de te impressionar já me tem cansado, pois, a cada adeus, meus sentimentos se apertam mais um pouco lá no fundo, quase chegando a ser cravados num lugar ao qual ninguém dá atenção.
Meu desejo da sua respiração sobrepondo a minha e dessas carícias que eu insisto em acreditar que só você pode me mostrar, é cego e irreal. Mas eu sinto, e cada vez que consigo encontrar seus olhos, ele ferve. Explode e eu tenho de me controlar para não invadir seus lábios e calá-los, para não lhe mostrar como gosto das mãos em minha cintura e nem arrancar-lhe trajes e suspiros.
Fico me perguntando qual parte é mais árdua: a de resistir aos dias sem resquícios seus em nenhum canto ou a de resistir à sede que surge ao te ver.
A questão é que, meu bem, para não ter de enfrentar tudo isso, eu deveria ter resistido primeira e totalmente à você.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Carta de amor nº 01

Senti imensuravelmente sua falta esses dias, horas, minutos e segundos. Passeei pelos jardins daqui e procurei seu cheiro em cada flor que avistava, mas tu, amada, é inigualável.
Decidi portanto, escrever e soltar minhas palavras, na tentativa de aliviar a carência (não que eu tenha botado fé nisso); sendo assim, aqui estou armada e desesperada.
Estive pensando em tudo que me encanta em você, entorpece-me e vira-me do avesso. Sua boca, tuas mãos, o modo como extrai de mim risos envergonhados. Relembrar destas pequenas coisas aos teus olhos me leva ao longo do dia, mantém a vontade de você viva dentro de mim, essa saudade.
Peço perdão e desculpas, até misericórdia, por alguma ofensa que sentiste relacionada à um fato vindo de mim. Nunca será minha intenção magoá-la, ferí-la ou desapontá-la, porém, espero ansiosamente que compreenda minhas limitações, e trate delas como se fossem as que você diz ter (mesmo que até o momento eu não tenha encontrado nenhuma sequer).
É que mesmo sob o seu feitiço, sou toda verdade e vergonha; de quando em quando sou puro instinto natural, pura sede insaciável, aspectos que não aprendi a controlar, por enquanto.
Contudo, a visitante frequente dos meus sonhos ainda é você, com delicadeza e brutalidade mistas dentro das fantasias que eu mais desejo que se tornem reais. Na alvorada, meu despertar é por ti e na calada da noite, a coragem surge de sua imagem que meu cérebro projeta automaticamente em minha mente quando suas marcas ressaltam por objetos, odores e pessoas. Em outras, não sei explicar o motivo desse fenômeno.
Essa parte final é importante e entenda que não se trata de descaso ou falta de (procurar) palavras que se encaixem aqui. Deveria finalmente expôr meus sentimentos e deixá-la com beijos carinhosos e uma despedida longa.
Mas, felizmente, consegues me levar à outra dimensão, onde essas palavras são poucas perto do que realmente estamos pensando. Honestamente, o estado e que fiquei e permaneço até agora mergulhada é, e eu espero que continue sendo, mágico, especial, terno, complementar e tão, mas tão inexplicável.