segunda-feira, 6 de junho de 2011

16

Não sei como as lágrimas ainda não possuíram meus olhos, mas vamos começar um resumo. Uma dissertação pessoal, sobre o que deixou e tornou a ser, sobre o que deixei e tornei a ser. Talvez assim elas libertem isso que está engasgado em mim, ou talvez o nó seja só porque eu fiz coisas erradas.
Me lembro pouco do meu último aniversário. As coisas foram surgindo, logo no domingo de manhã, e acabaram como sempre: com choro, angústia jorrada pelos olhos. Juro que não sei explicar como isso acontece comigo, como as coisas ruins são atraídas pra mim nesse dia. No mês seguinte, eu estava nove quilos mais magra e cinquenta por cento mais infeliz; a minha única alegria era subir na balança e ver números diminuindo. Passei o maior tempo sem comer que já consegui, e depois de uma viagem, recuperei tudo que perdi. Foi um dos maiores desgostos da minha vida.
Quando eu retornei da viagem, caos e brigas e choro. Isso é tão presente na minha vida que, se não acontece, estranho. Os meses de agosto, setembro, outubro e novembro foram apagados da minha memória, eu não lembro de absolutamente nada sobre eles. Só alguma coisa vaga sobre remédios para emagrecer, nada além disso.
Apenas uma coisa além. O palco, a voz forte, a expressão desesperada. 'And so i wake up in the morning and i step and i take a deep beathe'. Tudo que eu lembro é de gritar o mais alto que eu podia, e ninguém me ouvir. Ninguém compreender, todos apenas dizerem que foi ótimo, e até convite de banda eu receber. E essa coisa entalada na minha garganta.
Dezembro, festas. Um casamento horrível, onde não houve nada que me animasse. Um natal lamentável, onde passei grande parte do tempo calculando quanto tempo demoraria pra eu melhorar. E, ano novo vergonhoso. Nunca tinha me sentido tão objeto na minha vida. Janeiro foi marcante, eu estive no alto e no baixo. Reencontrei pessoas, chorei muito e me despedi de uma das coisas que me moviam. E então vieram as aulas.
No começo estava tudo, normal. Eu estava diferente, tudo estava diferente. Mas, chegaram as notas. Voltou o choro, voltou a fome, voltou a desgraça. Voltou o descaso.
Isso é reflexo de tudo que acontece comigo, absolutamente tudo. Tudo vai virando uma coisa feliz e basta um gesto para que meu mundo desmorone. E quando ele desmorona, ou me leva junto ou eu o acompanho, por ser tão solitário; sou altruísta e vejo nisso, ajuda.
Passou fevereiro, março. Em abril eu vivi, gritei, pulei, tomei chuva, louvei ao rei das trevas. E nesse tempo, eu já estava bem de novo, digo, comendo. Passou-se maio e quando chega junho eu perco tudo.
É quase como um recomeço forçado. Não há nada que se estabeleça firme durante junho, nada que se mantenha ativo, forte. Em junho eu sou papel, que amassa, estraga e se molhar, já era. Sou frágil a esse ponto. Fraca ao ponto de recorrer à esses métodos, à destruir meus dentes, meu estômago, meu fígado e meu coração, só porque estou confusa. Sempre tento não me confundir nesse meio tempo, nesse mês perigoso; não consegui nenhuma vez.
Creio que no final eu só não consigo mais. Colocar um sorriso sincero no rosto e continuar mesmo com as cicatrizes me atormentando, tem se tornado cada vez mais difícil. Tenho minhas distrações, tenho minha vida social, mas tudo é vago. Tem sempre o espaço dos meses no calendário, o espaço da refeição do dia anterior, o espaço de tempo que eu tenho até meus parentes chegarem e eu conseguir vomitar isso aqui, o espaço dentro de mim.
Não sei explicar isso. Eu tenho conseguido explicar poucas coisas, digo, poucas mesmo. Meus problemas de concentração estão cada vez piores, minha motivação indo pro lixo, meu corpo devorando a si mesmo e eu aqui, perdida dentro de mim.
Simplesmente não consigo mais me encontrar. Tem sido árduo até visar algo pelo qual respirar, pelo qual sofrer e amar. Tudo que eu quero está tão perto e tão longe. São tantos paradoxos, que eu não me acho com, entre ou neles. Eu simplesmente não me acho.

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